domingo, 30 de julho de 2017

ÁGUAS SUSPEITAS NAS PRAIAS DE SALINAS, MARUDÁ, BRAGANÇA, ABAETE E BARCARENA


Praias de Salinas, Marudá e outras: insatisfatórias, dizem laudos


Desde a noite de ontem, quando duas fontes distintas alertaram o Ver-o-Fato para que investigasse o caso, uma dúvida, com suas versões antagônicas, que ao mesmo tempo confirmam e desmentem a informação, tomou de assalto o blogue. Essa informação dizia, com todas as letras, que as praias de Salinópolis – Atalaia, Farol Velho e Corvina -, Bragança (Ajuruteua), Barcarena (Caripi), Abaetetuba (Beja) e Marudá estariam inapropriadas, insatisfatórias, até mesmo contaminadas, para o banho dos milhares de frequentadores desses locais durante as férias de julho. 

Dois laudos teriam sido emitidos pelo Laboratório Central do Estado (Lacen) : o primeiro, após a coleta das água, feita no final de junho pelos técnicos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) apresentou como resultado que bactérias e outros microrganismos foram encontrados nas análises. 

Esse laudo não foi divulgado para a imprensa informar os banhistas sobre a situação das praias dessas cidades. Foi o primeiro erro. Como as férias estavam começando, ficou decidido pela Semas que uma segunda coleta seria feita e entregue ao Lacen para análise e divulgação. A coleta, realizada no começo da segunda semana deste mês, teria confirmado as primeiras análises. Isso também não foi divulgado até agora. Foi o segundo erro. 



Esconde ou revela

As fontes que alertaram o blogue ainda usaram uma frase famosa, do ex-ministro Rubem Ricúpero, em 1994, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso: “eu não tenho escrúpulos, o que é bom a gente fatura; o que é ruim, a gente esconde”. Na busca da verdade, começaram as contradições de quem deveria esclarecer qualquer dúvida. O Ver-o-Fato procurou por telefone o homem que fez a coleta das águas, Vilfredo Oliveira, da Diretoria de Recursos Hídricos da Semas. 

Oliveira saiu pela tangente: disse que apenas coletou as amostras das praias e que não sabia qual o resultado das análises. Em conversa com o blogue chegou a admitir que o resultado apontava bactérias nas águas das praias de Salinas, Marudá, Abaetetuba e Barcarena, no primeiro laudo. Depois, consertou, dizendo não ter tido acesso ao resultado. “Quem tem os resultados e os divulga é o Lacen”, esquivou-se. 

Telefonamos para o Lacen e na conversa com Mônica Simões, do setor de Microbiologia da Água do órgão, ela também comentou sobre o primeiro laudo, admitindo que as primeiras análises consideraram as águas das sete praias insatisfatórias. Mônica, no entanto, evitou entrar em detalhes, chegando até mesmo a declarar que não tivera acesso ao resultado. “Quem fez a análise foi a técnica Joana D'Arc, que hoje não veio”, informou. 

"Resultado não era relevante"

Segundo Mônica, quem sabia e podia prestar as informações, até porque recebera os resultados, tanto da primeira quanto da segunda análise, era justamente o biólogo da Semas Vilfredo Oliveira, o mesmo que anteriormente dissera ao Ver-o-Fato que seu papel era somente o da coleta do material. “Quem recebe o resultado é o solicitante da análise”, afirmou ela, acrescentando que Oliveira poderia fornecer o resultado. 

Ainda falamos sobre a importância do acesso da imprensa a esse tipo de informação, que é de alto interesse público, porque mexe com saúde e doenças, mas Mônica, embora concordasse, preferiu acautelar-se de emitir opinião. No serviço público é assim: nem sempre o que é publico chega ao público, que, por sinal, é quem paga o servidor público. 

E lá foi o blogue buscar explicações junto ao secretário da Semas, Luiz Fernandes, que foi quem determinou a segunda análise das águas das sete praias para tirar qualquer dúvida: “nós reunimos todos aqui, o Lacen, a Semas, o secretário de saúde e vimos que o resultado não era algo relevante. O primeiro resultado deu com maré cheia, mas quando foi feito o segundo, com maré baixa, não deu”, disse Fernandes. 

O problema é que nenhum dos laudos foi divulgado para o público. Fernandes entende que não se pode “fazer estardalhaço” em cima disso. Não é essa a posição do Ver-o-Fato, aliás, que checa suas informações antes de publicá-las, tanto que se quisesse fazer sensacionalismo teria publicado ontem mesmo a informação sobre a possível contaminação das praias. 

“Não há problema com as praias de Salinas. Eu mesmo entrei com meu neto na água e não há problema, é seguro”, resumiu o secretário. Fernandes informou que embora o laudo não tenha sido entregue à imprensa para divulgação, ele foi enviado às prefeituras dos cinco municípios. 

Cadê os laudos?

O diretor de Recursos Hídricos da Semas, Ronaldo Lima, que estava ao lado do secretário Luiz Fernandes no momento da ligação telefônica, ofereceu uma explicação para a coleta das águas que, em vez de esclarecer os fatos, lançou mais dúvidas sobre as reais condições das praias analisadas: “o acondicionamento das amostras por pessoal novo, não treinado, na Semas”. A nova coleta enviada ao Lacen para análise, disse Lima, ainda não está pronta. O que deve ocorrer, segundo ele, na próxima terça-feira, dia 01 de agosto. Ou seja, quando as férias tiverem acabado. 

O Ver-o-Fato pediu a Lima que enviasse uma cópia da primeira análise, ele concordou em enviá-la para o blogue. Mas, até às 14:10h desta tarde, o documento não tinha sido enviado. 

A verdade dos fatos precisa aparecer nos dois laudos ainda engavetados. Versão não é fato. Ou é melhor esconder o que é ruim para debaixo do tapete? 

Se for assim, dane-se o público.

Fonte: Ver-o-fato

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