quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Barcarena: sempre vítima


Este meu artigo saiu no Jornal Pessoal de 2009, sete anos atrás.O que mudou para melhor desde então? Os acidentes se amiúdam, apesar das providências anunciadas para evitá-los.
Mais um vazamento industrial em Barcarena, agora causado pela Alunorte, reforça (e renova) a necessidade de um plano diretor para todo distrito. Não chegou a haver um grande impacto ecológico e humano nem a causa do acidente pode ainda ser atribuída à negligência ou falha da empresa.
À falta de laudos finais sobre o episódio, parece que ele foi causado por uma chuva excepcionalmente intensa: em hora e meia o que caiu de água (105 milímetros) equivaleu a “30% do total médio histórico para todo mês de abril”, o mais molhado do ano, explicou a Alunorte em nota de esclarecimento.
Houve transbordamento (mas não rompimento) de um canal que conduz água e resíduos de bauxita, contaminados por soda cáustica (usada no processo industrial), para tratamento e despejo na drenagem natural. Os efluentes caíram diretamente no rio Murucupi, antes, portanto, do tratamento para neutralizar seu PH e impedir danos à natureza e ao ser humano. Mas a empresa garantiu que não houve “qualquer risco para a saúde das pessoas ou uma evidência forte para ocorrência de mortandade de peixes”.
Além de fazer seu próprio acompanhamento do processo industrial, a Alunorte contratou dois consultores para monitorar as águas logo depois do acidente. Informou que não encontrou elementos para caracterizar um desastre ambiental ou danos significativos.
Mesmo assim, foi multada, tanto pelo órgão federal, o Ibama, quanto pelo estadual, a Sema. A empresa disse que recorreria das autuações. Sustenta que o acidente “foi provocado por um fenômeno da natureza” e não por qualquer falha.
De fato, a chuva foi fora de padrão em toda região, castigando também a capital com violência. Mas a pergunta que imediatamente se podia fazer era se a margem de segurança para as barragens que abrigam ou drenam os resíduos era correta. Os técnicos argumentam que sim.
No momento da entrevista coletiva, porém, não dispunham de números sobre séries históricas de observação das precipitações pluviométricas, que pudessem comprovar que a chuva do dia 26 estava fora dos padrões históricos, por isso extrapolando a margem de segurança das obras de engenharia.
A questão ainda está em aberto. Mas o presidente da Alunorte, Ricardo Carvalho, disse que a empresa formulou um projeto para a formação de um condomínio ambiental com as outras unidades do distrito industrial, o que possibilitaria rever e adequar suas instalações de uma forma global. Se isso acontecer e for sério, este acidente poderá ter um efeito positivo. Espera-se que não sejam necessários novos acidentes.

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