Jhonny Mecklay trabalhava há 13 ano na refinaria Hydro Alunorte e ocupa função no Sindicato dos Químicos
Seria
mais um dia trabalho para Jhonny Mecklay, 35 anos. Acordou cedo como de
costume, bateu o ponto e foi trabalhar acreditando que esse ano
completaria 13 anos como funcionário da Hydro Alunorte, empresa do grupo
Norsk Hydro, de capital norueguês, dona da maior refinaria de alumina
do mundo, no polo industrial de Barcarena, no estado do Pará.
Entretanto,
no dia 5 de outubro, data em que se celebra uma das maiores
festividades religiosas do Brasil - o Círio de Nazaré -, Mecklay não
teve muito que comemorar: foi demitido. Era funcionário de confiança,
chegando a substituir o gerente do setor no qual trabalhava durante as
férias do superior.
Segundo seu relato, a justificativa da empresa
para o desligamento se baseou em um fato ocorrido entre Mecklay e a
técnica de segurança do setor. Ele conta que estava avaliando um
equipamento no qual iria trabalhar, quando foi abordado pela funcionária
que o indagou sobre um procedimento de segurança e notificou o ocorrido
como infração. “Não orientaram o que eu deveria fazer, então fui
verificar o que estava acontecendo no equipamento para eu trabalhar”,
explica.
Ele soube pelo gerente do setor que a empresa estava
desligando-o sob o argumento de que haveria cometido uma falha no
procedimento de segurança. Mecklay é dirigente sindical e duas semanas
antes da demissão foi remanejado para outra área, no qual nunca havia
trabalhado.
“Nesse período não fui acompanhando por nenhum gerente
e também não tive nenhum treinamento, porque quando houve o treinamento
eu estava de férias, quando eu voltei vi que algumas informações
mudaram”, conta.
Na sala
Mecklay foi levado a uma
sala acompanhado pelo gerente de manutenção para que assinasse a carta
de demissão. Orientado pelo presidente do Sindicato dos Químicos de
Barcarena, Gilvandro Santa Brígida, ele se recusou a assinar o
documento. Por esse motivo, alega ter sido mantido na sala por cerca de
duas horas, sempre acompanhado por outro funcionário. Como solução
diante do impasse, a empresa solicitou que duas testemunhas assinassem a
carta.
Questionado se ele estava sendo impedido de sair da sala,
Mecklay responde: “De certa forma sim, porque eu disse pra eles que eu
não estava me sentido bem, mas me responderam que 'não [poderia sair],
infelizmente tem que aguardar aqui’”.
“O meu equipamento de
proteção individual [EPI], necessário para que eu pudesse me deslocar,
já tinha sido retido. Não podia sair sem aquilo. Fiquei ilhado. Tudo que
eu fazia ele [funcionário que o acompanhava na sala] ficava do meu
lado. Quando ele saiu da sala, pediu pra outro ficar comigo. Aquilo foi
me consumido” desabafa.
Recado
Brígida acredita que a
atitude da empresa para com o dirigente sindical seja um recado. “Eles
estavam acostumados a ter o sindicato como um quintal da empresa, não
havia discussão, e no nosso entendimento eles querem demitir um
sindicalista para dizer o seguinte: 'estamos demitindo um sindicalista.
Vocês que não têm estabilidade nenhuma, imaginem [o que pode acontecer].
Como se fosse um recado para os trabalhadores da empresa, para não se
fortalecer, não se associar”.
Em entrevista, o Presidente da
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-PA), José
Araújo, informou que a empresa cometeu uma prática antissindical e diz
que a demissão do funcionário e dirigente foi arbitrária e questionável,
pois não houve um processo administrativo, no qual tanto funcionário e
sindicato tivessem acesso às informações e ampla defesa.
"O
dirigente sindical só pode ser demitido, só pode ser afastado do seu
local de trabalho a partir de um processo administrativo. É
inadmissível, intolerável uma empresa chegar e demitir um trabalhador,
um dirigente sindical de forma arbitrária, retira da categoria um
diretor do sindicato, ou seja, se aceitarmos isso, daqui a pouco
qualquer dirigente sindical é afastado, e os trabalhadores que elegem
aquela chapa vão ficar sem representação”, completa Araújo.
Ainda
segundo Araújo, a CTB-PA e o Sindicato dos Químicos registraram um
boletim de ocorrência, denunciaram o ocorrido na embaixada da Noruega,
além de terem relatado o ocorrido à direção da Norsk na Noruega e a
sindicatos do país. Uma ação judicial também foi aberta exigindo a
reintegração de Mecklay ao cargo.
Resposta
Após inúmeras tentativas de contato com a Hydro Alunorte, a empresa respondeu aos questionamento da reportagem.
Em
nota, a companhia afirmou que “ o referido empregado exercia função no
Conselho Financeiro do Sindquímicos (Sindicato dos Trabalhadores nas
Indústrias Químicas de Barcarena), não apresentando, entretanto,
qualquer privilégio e tendo os mesmos direitos e deveres que os demais
empregados”. Afirma também que a demissão “seguiu os trâmites usuais da
companhia, bem como a legislação brasileira, sendo desenvolvido dentro
dos mais absolutos e rigorosos padrões de respeito e transparência” e
que as razões para o desligamento foram posteriormente esclarecidas
junto ao Sindicato.
Edição: Rafael Tatemoto
fonte: https://www.brasildefato.com.br/2016/10/12/funcionario-nao-assina-demissao-e-fica-preso-por-duas-horas-no-pa-denuncia-sindicato/
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